domingo, 11 de novembro de 2012

Aconteceu...um espectáculo iluminado, "Iluminações"

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Há uma semana  a esta hora, eu estava no CCB (Centro Cultural de Belém, em Lisboa), a assistir a uma peça de teatro/dança/música (poderei pôr assim?) da companhia profissional residente "Companhia Maior". Esta tem a particularidade de ser composta por artistas com mais de 60 anos, alguns dos quais amadores que nunca tinham pisado o palco, embora o desejassem. Se não estou enganada, uma das artistas tem 88 anos.
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Desta feita, a peça, a 3ª que apresentam, chamava-se "Iluminações", onde textos sobre o envelhecimento e até a morte eram ditos pelos actores e pela encenadora.
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Logo de entrada, e depois de entrar pelo palco, assistimos a um prolongado arrumar e desarrumar de vários objectos que se encontram dispersos, e que a própria encenadora puxa aparentando por vezes algum esforço. Memórias, fragmentos de vida? A cena vai-se repetir já no fim, mas com a participação de toda a companhia.
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A representação, no dia em que fui, demorou pouco mais de 3 horas sem intervalo. Soube depois que na estreia tinha demorado 4 horas sem intervalo. Parece-me, "teoricamente" falando, um exagero.
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Tem momentos do ponto de vista estético muito bonitos, diria quase inesquecíveis, uma semana passada. A luz, as movimentações dos actores, os momentos de dança e alguns textos foram muito bonitos. A vivacidade, a sensualidade, a vontade, a resistência física, a desinibição são aspectos impossíveis de ignorar e de esquecer.
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No entanto, e agora vem a outra face no espectador, eu, foi um espectáculo com momentos muito aborrecidos. Textos demasiado longos, a despropósito (para quê ler o nome de todos os falecidos no desastre da ponte de Entre-os-Rios?), arrastados no tempo e no espaço, fizeram com que por várias vezes os actores ouvissem palmas. Terão pensado que eram aplausos pela cena acabada... ou alguns espectadores terão pensado que a peça estava a acabar? Isto ao fim de 2 horas de cena. Mas não, era mudança de cena e a representação logo continuava.
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Esta companhia tem por base certamente uma atitude anti-depressiva, e com isto não quero dizer que os actores estivessem deprimidos ou que seja uma actividade terapeutica. É sim uma posição positiva, um acreditar nos anos que vão chegar e acreditar que todas as idades podem ser vividas com qualidade e alegria. E muito bem!
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Quanto à duração, que penso não vem dos actores mas da encenação, que pensar? Uma revisão e bastantes cortes teriam tornado o espectáculo bem mais agradável durante a sua exibição.
Escolher, cortar, sintetizar que representa? Para além da escolha, da opção, por vezes difícil de fazer, representa ter de fazer uma opção, um "luto" do que deixamos para trás, uma despedida. Coisa que fazemos constantemente na vida, uns com maior facilidade, outros com menos, e por vezes com muito sofrimento.
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Como as crianças que hesitam entre deixar de ser crianças e serem adolescentes, ou estes últimos que por vezes acedem com dificuldade a serem adultos, ou como os pais que se agarram aos filhos, receando o seu crescimento, ou ainda como aqueles que ficam agarrados a um acontecimento da vida, e impedem-se de prosseguir e deixar as amarras desse passado.
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São divagações que me assaltaram, e que me fazem algum sentido.
O facto de hoje as lembranças da peça serem agradáveis e terem ficado marcados aspectos muito bonitos que guardo dentro de mim, fizeram-me pensar na dores de parto, que  se dizem das piores, mas que, logo que passadas se esquecem, ficando como marca não a lembrança como com esta peça, mas o bebé que iremos investir.
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Só mais uma nota, sendo uma peça com muita música e dança, não deveria o programa referir as peças musicais seleccionadas?